EXPOSIÇÕES DO GRUPO DO LEÃO
Imagens (gerais ou de pormenor) de quatro das nove exposições do Grupo do Leão, incluindo a extra de 1886, e o único texto conhecido de crítica àquela que se pode chamar de pré-exposição do grupo, a de Columbano Bordalo Pinheiro e António Ramalho em 1880.
Mostra-se também as capas dos catálogos (todos online) das exposições "oficiais" (da "extra" não se conhece catálogo) e sua listagem por ano, título, sala e mês de inauguração.
O título de cada exposição liga ao catálogo respectivo. O link RGPESQ remete para as páginas do blog Eventualmente Lisboa e o Tejo onde o investigador Rui Granadeiro compilou imagens das obras expostas, juntando links para as recensões críticas na imprensa da época, que estão no final de cada post.
1881
-
1888
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imagens: INTERNET ARCHIVE
O Grupo do Leão organizou oito exposições oficiais com catálogos ilustrados, editados por Alberto de Oliveira, e uma "extra", em Julho de 1886, sem catálogo conhecido. Listam-se as nove:
1881
título: [1.ª] Exposição de Quadros Modernos
local: Sociedade de Geografia de Lisboa | Rua do Alecrim, 89, 2.º andar
inaguração: Dezembro
1882
título: s.t. no catálogo [2.ª Exposição de Quadros Modernos]
local: sala do jornal Comércio de Portugal | Rua dos Fanqueiros, 284, 1.º andar
inauguração: Dezembro
1883
título: 3.ª Exposição de Quadros Modernos
local: sala do jornal Comércio de Portugal | Rua Ivens, 35, 1.º andar
inauguração: Dezembro
1884
título: 4.ª Exposição de Quadros Modernos
local: sala do jornal Comércio de Portugal | Rua Ivens, 35, 1.º andar
inauguração: Dezembro
1885
título: 5.ª Exposição de Arte Moderna
local: sala do jornal Comércio de Portugal | Rua Ivens, 35, 1.º andar
inauguração: Dezembro
1886 [extra]
título: Exposição de Quadros do Grupo do Leão
local: Depósito da Fábrica de Faianças das Caldas da Rainha | Avenida da Liberdade, 40-48, rés-do-chão
inauguração: Julho
1886
título: 6.ª Exposição de Arte Moderna
local: sala do jornal Comércio de Portugal | Rua Ivens, 35, 1.º andar
inauguração: Dezembro
1887
título: 7.ª Exposição de Arte Moderna
local: sala do jornal Comércio de Portugal | Rua Ivens, 35, 1.º andar
inauguração: Dezembro
1888
título: 8.ª Exposição de Arte Moderna
local: sala do jornal Comércio de Portugal | Rua Ivens, 35, 1.º andar
inauguração: Dezembro
1880
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imagem: A ARTE [Biblioteca Digital da Biblioteca Nacional do Brasil]
No começo de 1880 Columbano Bordalo Pinheiro e António Ramalho expuseram em conjunto na sede da recém-criada Associação de Jornalistas e Escritores Portugueses, na Praça Luís de Camões, 36, 1.º andar. Tratou-se da primeira mostra de ambos em Portugal fora das da Sociedade Promotora de Belas-Artes.
Pode ser considerada a pré-exposição do Grupo do Leão, na interpretação de João Vaz. Veja-se o registado em 1928 por Artur Cruz Magalhães (1864-1928), fundador do Museu Bordalo Pinheiro (MAGALHÃES, 1928: 169):
Em amena e honrosa conversa com João Vaz, apanhei uma nota inédita sobre as remotas origens do Grupo do Leão, nascido primordialmente das exposições dos chamados "independentes". A primeira exposição desses intrépidos rapazes, cheios de talento e de audácia, realizou-se na antiga Associação dos Jornalistas, no grande prédio da Praça de Luís de Camões, entre a Rua das Gáveas e a do Norte. Foram seus iniciadores: Columbano e Ramalho. Esta exposição incitou outras, surgindo o falado Grupo do Leão, que teve como principais instigadores: Silva Porto e João Vaz.
Alberto de Oliveira esteve desde logo envolvido, de acordo com Ramalho Ortigão: "A última exposição de quadros, nas salas da Associação dos Escritores, foi em grande parte promovida e organizada por ele", escreveu em 1883 (ORTIGÃO, 1947 [1883]: 88).
A única crítica à exposição que conheço é de Francisco Rangel de Lima (1839-1909), na revista A Arte. É sintomática do impacto da novidade das práticas dos dois pintores, precisamente pelas desapreciações do crítico: Columbano tem "franqueza demasiada na maneira de pôr a tinta, ou antes, falta de acabamento na execução, e a cor é barrenta, destituída por conseguinte do atractivo da tinta de um pintor colorista"; Ramalho "tem algumas paisagens pintadas segundo a moderna escola implantada entre nós pelo Sr. [Silva] Porto. (...) É pena que este artista não possa aproveitar o benefício da lei [i.e., uma bolsa de estudo] para ir aprefeiçoar-se nas escolas de Paris e da Itália" (RAPIN, pseud., 1880: 178).
1881
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autor: ANTÓNIO RAMALHO [gravura de CAETANO ALBERTO]
imagem: O OCIDENTE [Hemeroteca Digital de Lisboa]
legenda em O Ocidente:
Salão de quadros - Exposição na sala da Sociedade de Geografia de Lisboa
Imagem publicada em 1882 referente à primeira exposição do Grupo do Leão, de 1881.
1884
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autor: LUCIANO FREIRE [gravura de FRANCISCO PASTOR]
imagem: ILUSTRAÇÃO UNIVERSAL [Biblioteca Digital da Biblioteca Nacional do Brasil]
legenda em Ilustração Universal:
Exposição de quadros do "Grupo do Leão", nas salas da redacção do "Comércio de Portugal"
Imagem publicada em 1884 referente à quarta exposição do Grupo do Leão, desse ano.
1884
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autor: ARTUR BENARUS [gravura de CAETANO ALBERTO a partir de fotografia do autor]
imagem: O OCIDENTE [Hemeroteca Digital de Lisboa]
legenda em O Ocidente:
Quarto salão de quadros - A exposição, na sala da redacção do "Comércio de Portugal"
Imagem publicada em 1885 referente à quarta exposição do Grupo do Leão, em 1884.
A gravura (imagem recortada no original) foi produzida "segundo fotografia do Sr. A. Benarus", isto é, Artur Benarus (1881-1926; irmão do pintor Adolfo Benarus, 1863-1950, que foi discípulo de Silva Porto).
O fotógrafo também registou a exposição de 1886 (ANON., 1886f: 2) e voltou a fazê-lo em 1887: numa O Ocidente de 1888 explica-se, a propósito da sétima exposição, que "o Sr. Benarus, um distinto artista amador de pintura e de fotografia, fotografou grande parte dos quadros expostos e ofereceu ao grupo uma boa porção de fotografias, que são vendidas ao visitantes pela módica quantia de 100 réis cada uma"; o mesmo foi dito no Diário Ilustrado e no Correio da Manhã (ANON., 1888: 7; ANON., 1887c: 2; ALÉRIA, 1887: 1). (Ver mais sobre Benarus em ELIAS, 2002: 112-113; ELIAS, 2011: 509; TAVARES, 2010: 78, nota 28; ver ainda este registo no Arquivo Histórico Ultramarino).
Ignora-se o paradeiro das fotografias de Benarus, que não constam do seu espólio no AML.
1886
GDL_EXPO_07
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autor: ABEL ACÁCIO
imagem: A ILUSTRAÇÃO [Biblioteca Nacional Digital de Portugal]
Imagem publicada em 1887 referente à sexta exposição do Grupo do Leão, em 1886.
Abel Acácio reproduziu a estatueta Amuada de Moreira Rato no contexto da sala, vendo-se na parede algumas pinturas não identificáveis.
1886
[expo. extra]
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autor: RAFAEL BORDALO PINHEIRO
imagem: PONTOS NOS II (Hemeroteca Digital de Lisboa)
legenda em Pontos nos Ii:
Abertura do Depósito da Fábrica de Faianças das Caldas da Rainha e exposição de quadros do Grupo [do] Leão na Avenida da Liberdade
Em 1886, Rafael Bordalo Pinheiro organizou em Lisboa duas exposições com produtos da Fábrica de Faianças das Caldas da Rainha (FFCR).
A primeira, temporária, inaugurou em Fevereiro nas salas do jornal Comércio de Portugal (Rua Ivens, 35, 1.º andar). Portanto, no mesmo espaço onde o Grupo do Leão teve a sua mostra de 1885 (encerrada em Janeiro de 1886), em que ele também participou. Dela conhece-se dois desenhos: um de Bordalo (com auto-caricatura) publicado na Pontos nos Ii, e outro de Ribeiro Cristino na O Ocidente.
A segunda exposição foi permanente, isto é, era a galeria de vendas do Depósito da FFCR que abriu em Junho na Avenida da Liberdade "no prédio do Sr. Nunes Correia" (CAMPOS, 1886: 91 e ANON., 1886b: 1), isto é, o Palacete Nunes Correia. Foi aqui, numa sala contígua, que esteve a exposição extra Grupo do Leão (detalhes no texto seguinte), cujo acesso se vê ao fundo do centro deste desenho.
A imagem mostra a sala com os produtos da FFCR. Sabe-se que Maria Augusta Bordalo Pinheiro, Francisco Vilaça e Luigi Manini (1848-1936) colaboraram na decoração (ANON., 1886b: 1). Em específico, o italiano pintou o tecto, com "céu enublado, emoldurado de uma imitação de azulejos" (ANON., 1886d: 2).
À esquerda vê-se o rei D. Luís, de chapéu na mão, conversando com figura não identificada, talvez Feliciano Bordalo Pinheiro, irmão de Rafael. Ao centro, Rafael com a rainha D. Maria Pia.
1886
[expo. extra]
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GDL_EXPO_05_B
autor: RAFAEL BORDALO PINHEIRO
imagens: PONTOS NOS II (Internet Archive); MUSEU BORDALO PINHEIRO
legenda em Pontos nos Ii:
A galeria do Depósito de Faianças das Caldas, na Avenida
Desenhos mostrando a exposição extra do Grupo do Leão no Depósito de Faianças da Fábrica das Caldas da Rainha. O segundo desenho, da colecção do Museu Bordalo Pinheiro, é um estudo do publicado na Pontos nos Ii.
Esta exposição de 1886, que antecedeu a oficial do mesmo ano, a sexta, inaugurada em Dezembro seguinte, reuniu pelo menos 56 obras, a crer na quantidade de pinturas representadas por Rafael Bordalo Pinheiro no desenho supra (GDL_EXPO_05). Não há conhecimento de catálogo.
Participaram:
SILVA PORTO
com, pelo menos, o "retrato de uma senhora"
COLUMBANO BORDALO PINHEIRO
várias obras, incluindo "um magnífico pastel (...), retrato de João Burnay" (provavelmente uma das pinturas na parede à esquerda, com uma coluna à frente; confrontar com a obra conhecida)
FRANCISCO VILAÇA
não se conhece descrição da(s) obra(s)
JOÃO VAZ
várias marinhas
CARLOS REIS
12 pinturas, "pastéis", algumas paisagens e retratos"
MARIA AUGUSTA BORDALO PINHEIRO
com, pelo menos, "deliciosas flores a pastel"
BERTA RAMALHO ORTIGÃO
com, pelo menos, duas pinturas, uma delas "representando um gato junto de um vaso de flores, um gato bem posto, elegante e uma mesa sobre a qual se desdobra uma toalha na qual estão colocados alguns arenques, uma mostardeira de porcelana, uma garrafa com vinho e outras coisas mais"
TOMÁS DA ANUNCIAÇÃO
com, pelo menos, um "quadro de ovelhas e carneiros"
Note-se a singularidade de a exposição incluir Tomás da Anunciação (1818-1879), mestre do romantismo, professor de alguns do Grupo do Leão e, claro, nunca seu membro. Dir-se-ia que a inclusão foi uma homenagem superior, apartando-o dos outros não-Leão participantes nas exposições "oficiais" seguintes, Ernesto Condeixa e José Veloso Salgado (o primeiro na sexta, sétima e oitava, o segundo na oitava). Por outro lado, é interessante notar a introdução de Carlos Reis, que nunca foi propriamente um membro do grupo e que regressou nas sexta e sétima exposições.
FONTES: LOBATO, 1886: 153-154; ANON., 1886b: 1; ANON., 1886c: 2; ANON., 1886d: 2; ANON., 1886e: 2; PINHEIRO, 1886b: 141.
(Uma consideração ainda: ao contrário do que afirmei aqui, talvez tenha sido esta sala a primeira galeria de arte comercial de carácter permanente no país.)
1886
[expo. extra]
GDL_EXPO_06
GDL_EXPO_06_B
autor: RIBEIRO CRISTINO [gravura de DOMINGOS CAZELLAS]
imagem: O OCIDENTE (Hemeroteca Digital de Lisboa)
legenda em O Ocidente:
Exposição da Fábrica de Faianças das Caldas da Rainha, no seu depósito da Avenida da Liberdade
Sala principal do Depósito de Faianças da Fábrica das Caldas da Rainha. Ao fundo vê-se a sala com a exposição extra do Grupo do Leão.
Neste desenho percebe-se melhor a imitação de azulejos no "emoldurado" do tecto executada por Luigi Manini, um dispositivo plástico usado por Rafael Bordalo Pinheiro no ano anterior na sua pintura para a decoração do Restaurante Leão de Ouro (aqui, imagem 08).