EXPOSIÇÕES EM LISBOA PARALELAS ÀS DO GRUPO DO LEÃO - 1885-1887
Entre 1885 e 1887 aconteceram cinco exposições em Lisboa, das quais não se conhece imagens, que podem ser entendidas como inspiradas nas do Grupo do Leão.
1885
FEV.
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Em Fevereiro de 1885, logo após o encerramento da quarta exposição do Grupo do Leão, inaugurou no mesmo espaço – salas do jornal Comércio de Portugal (Rua Ivens, 41, 1.º andar) – uma "Exposição de quadros de pintores nacionais e estrangeiros", com cerca de 80 obras de 11 artistas. Três deles estavam associados ao grupo: Maria Augusta Bordalo Pinheiro, Adolfo Greno e Francisco Vilaça.
Na Ocidente, Monteiro Ramalho denunciou a exposição como "bazar de obrinhas de arte, organizado por alguns artistas interlopes [i.e., contrabandistas] e outros (...) com o propósito manifesto e quiçá caviloso [i.e., astucioso] de aproveitarem espertamente o ar ainda choco do entusiasmo que acolhe sempre os pequenos salões" do Grupo do Leão.
Foi também exposta uma – suposta – "bela tela de Correggio". A sua colocação na exposição foi, claramente, uma forma de atrair público para os outros artistas (ver bloco abaixo para detalhes).
Não se conhece imagens da exposição.
Participaram:
MARIA AUGUSTA BORDALLO PINHEIRO
"um quadro de flores e algumas louças pintadas"
"malvaíscos pintados a óleo"
"pinturinhas em faianças com os mesmo bonitos malavíscos e uns veludíneos amores-perfeitos"
ADOLFO GRENO
"sete quadros"
"paisagens [e] vários interiores"
"[uma tela intitulada] Pequeno cálculo"
"29 [obras], compreendendo figura, paisagem e marinhas"
"paisagens tenebrosas (...) engomadeiras (...) burros [e] cães"
ANTÓNIO FÉLIX DA COSTA ?-?
"sete retratos [incluindo] retrato do Sr. conselheiro Carlos, honrado presidente da Associação Comercial de Lisboa, os retratos do digno director da mesma associação, o Sr. Luís Eugénio Leitão e de sua exm.ª esposa"
"quadrinho [com] dois diabos [em] pesca à linha"
"[paisagem intitulada] Sem amores"
FRANCISCO VILAÇA
"dois quadros – paisagem e marinha – e diversos estudos"
JOSÉ MARIA PEREIRA JÚNIOR, dito PEREIRA CÃO
"variados quadros de flores e frutas"
"prateados e reluzentes peixes"
TORRIELLI
"retratos à pena"
THOMAZ DE MELLO JÚNIOR
"duas marinhas"
ELISA DE MELLO
"um quadro de natureza morta"
RICARDO HOGAN
"quatro aguarelas"
Sr.ª REIS
É provável tratar-se de Maria Guilhermina Silva Reis (?-c. 1885). Ver o estudo de Sandra Leandro.
"dois pratos pintados"
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A "bela tela de Correggio", isto é, do mestre renascentista italiano Antonio Allegri (c. 1489-1534), dito Correggio, mostrada nesta exposição, foi identificada como Repouso da Virgem no Egipto. Na altura era propriedade do empresário Francisco Ribeiro da Cunha, "distinto amador de belas-artes [que] possui colecções valiosíssimas" (ANON., 1885j: 2). Desconhece-se localização e propriedade actuais.
Na verdade, seria uma cópia por autor desconhecido, de acordo com a base de dados da Galleria degli Uffizi, Florença, onde se encontra o original, Riposo durante la fuga in Egitto con San Francesco, c. 1520, "una copia, priva delle figure di San Antonio [sic], è segnalata a Lisbona". (Note-se, porém, a contradição desta frase com o título da obra e a outra descrição no website da Uffizi: diz-se Santo António, em vez de São Francisco.)
Não obstante, veja-se o que se explicou à época no Comércio de Portugal (ANON., 1885j: 2). A tela pertencera à casa dos condes da Atalaia. Fora talvez obtida por Pedro Manuel de Noronha, 5.º conde da Atalaia, que nas primeiras duas décadas do século XVIII ocupou cargos militares e governativos em Itália, onde terá adquirido, ou ter-lhe-á sido oferecida, a obra. Diz-se ainda que, quando Francisco Ribeiro da Cunha mandou substituir a moldura, "encontrou-se entre a tela e o resguardo respectivo um pergaminho do século XVI contendo a declaração autêntica de Antonio Allegri, feita pelo notário [Jerónimo] de Migutis, doando o quadro do repouso à igreja de Correggio, sua pátria, a fim de ser colocado na capela de Santo António" (a notícia transcreve depois o texto do documento, em italiano).
Não é impossível que a pintura mostrada em Portugal em 1885 não fosse uma cópia e sim uma versão da existente em Florença, executada à mesma por Correggio, mas isto é especulação minha.
1885
ABRIL
Em 1954, Luís Varela Aldemira, narrando (no seu estudo sobre Silva Porto) o que, no seu entendimento, foi a "concorrência macaqueante dos artistomaníacos" ao Grupo do Leão, citou uma notícia do Jornal do Comércio de 22 de Abril de 1885 sobre uma exposição: "'Algumas damas da nossa mais distinta sociedade resolveram, antes de partir para as suas estações balneatórias, organizar um pequeno Salon' que admitia aguarelas, óleos, desenho, escultura e faiança, no salão nobre do Teatro de D. Maria II, a inaugurar pela rainha 'a pedido das gentis artistas'" (ALMDEIRA, 1954: 107).
(Ainda não consultei aquele jornal e não consegui encontrei referências noutros periódicos da época.)
1885
MAIO
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O conceito de grupo artístico pareceu contaminar outros criadores, pelo menos de acordo com a imprensa da época. Em finais de Maio de 1885 inaugurou na Loja do Povo, no Rossio (Praça D. Pedro IV, 87-89) – o primeiro estabelecimento de Francisco Grandela (1852-1934) – uma "exposição de pintura dum novo grupo de artistas denominado da Loja do Povo e composto pelos Srs. Greno, Gameiro, Barradas e outros", aliada a uma venda de caridade, leu-se no Comércio de Portugal. O Economista, citando o Novidades, publicou: "Formou-se (...) um novo grupo de pintores. O novo grupo denomina-se da Loja do Povo. E é naquela loja que abre amanhã a sua exposição".
Ignora-se que eram os "outros". Os nomeados eram Adolfo Greno (1854-1901 ), Augusto Gameiro (?-?) e Augusto Barradas (?-?). Mas, na verdade, Greno não só não participou, como escusou-se ao conceito de grupo. Dois dias depois daquela notícia, o mesmo Comércio disse: "Não é exacto, como por mal informados dissemos, que o distinto pintor o Sr. Greno tinha exposto quadros na Loja do Povo, assim como também não é certo fazer parte de grupo algum de pintores".
Gameiro expôs mais vezes na Loja do Povo, no mesmo ano e em 1886 (ver notícias aqui, aqui, aqui e aqui). Em Julho de 1885 a sua exposição foi descrita como de "quadros modernos", emulando a designação das do Grupo do Leão.
1886
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Em meados de Maio de 1886 o jornal Comércio de Portugal (Rua Ivens, 41, 1.º andar), local das exposições do Grupo do Leão desde 1882 e até ao fim, voltou a abrir as salas a artistas não relacionados com o grupo (excepto Adolfo Greno), com uma mostra organizada por António Félix da Costa e Higino de Mendonça. Participaram dez nomes. Dois deles, Greno e Félix da Costa, tinham entrado na Exposição de quadros de pintores nacionais e estrangeiros de 1885 (ver acima).
JERÓNIMO BANHOS ?-?
"três marinhas"
No Tejo
Ria de Faro
Costa de Portugal
ADOLFO GRENO
várias telas
Na varanda
ANTÓNIO FÉLIX DA COSTA
cinco "desenho[s] de figura", entre eles um retrato do visconde de Soares Franco
telas Cauteleiro e Veterano da Marinha
HIGINO DE MENDONÇA ?-?
seis telas
"arredores do Porto"
Tarefa cumprida
Para casa
Lavadeiras no rio
Algés
LEONEL MARQUES PEREIRA 1828-1892
várias telas
Passagem da fonteira
GUILHERMINA F. DE ALMEIDA COSTA ?-?
"dois quadros de flores"
LUÍS TOMASINI 1823-1902
"quadros de pequenas dimensões"; o "maior" representa o Tejo "por ocasião da chegada [de África] dos exploradores" em 1885 – i.e., Hermenegildo Capelo e Roberto Ivens –, com o vapor Cabo Verde
PEDRO DINIZ ?-?
"três marinhas"
MARIA TEOLINDA SILVA REIS ?-?
pratos pintados
ANA TELES ?-?
pratos pintados
AUGUSTO BARRADAS
obras desconhecidas
1887
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Em finais de Novembro de 1887, por apenas quatro dias e, mais uma vez, no jornal Comércio de Portugal, viu-se uma exposição dupla do espanhol Federico Corchón y Diaque e de Higino de Mendonça. Diaque expôs 31 obras: paisagens e uma intitulada Legumes. Mendonça expôs sete ou oito, incluindo uma com o título Calma suja.